As avenidas, em linhas largas, transbordam em multidão. As ruas, de curvas magras, inventam a direção. O beco, não. É pequeno, egoísta, quer chamar atenção. Forte, fraco, carente e brigão. Todo mundo tem um beco. Um lugar deixado pra lá. Uma mania torta. Louca pra se mostrar. E não há nada mais gostoso. Do que quando, num segundo de olhar A gente descobre no outro. Um beco pra se morar.
terça-feira, 28 de julho de 2009
sexta-feira, 24 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Bárbara
E até sorrio um sorriso capenga
Que de saudade já não há quem entenda
Melhor do que a fenda vigiando meus olhos
Digo; até sinto culpa pelo desdém
Mas, lugar nem ninguém tem beleza completa
Quiçá passos encantados de borboleta
Como ela tem
Vejo pouca graça na bárbara graça do Rio
Mas o navio do sorriso brilhante já aponta na Guanabara
E da fenda, saltitante abraço, quase concreto
De certo colorindo o caminho
Chegando enfim, calando os braços abertos
Me enchendo de carinho
E a bárbara graça do Rio se rende
E se estende para a graça de Bárbara
E a graça de Bárbara entende
Que sem ela não sou nada
terça-feira, 16 de junho de 2009
Serena, sem tremor
A mais bonita que já vi
Te levo pela praia
Mesmo com a vaia de gente feia
Ipanema nos sorri
E agradeço baixinho ao Cristo,
Visto que Ele é o ouvido de Deus,
Por te ter ali
A pedra da Gavea nos chama
Vira logo cama
E a gente despenca sem para-quedas
E o medo de morte não aparece
Porque nosso amor amortece o choque
A gente levanta e dá mais um beijinho
E diz baixinho, um pro outro,
O quanto ama.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Mesmo não devendo
Sinto que devo não calar
A dívida é grande com o coração
Ele me cobra com o vazio
Que parece nunca se esvaziar
Só não consigo dizer que te sinto
Mesmo! Não sentindo muito...
Porque muito é sempre pouco te dar
E te dou meu tudo
Menos meu amor
Pois meu amor é cego, surdo e mudo
E tenho que levá-lo pra passear
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Meio Termo
Toda errada e despida
Tão sabida, acha graça
Nem disfarça, nem abraça
Passa a vida em meio termo
Eu tremo. Eu temo ser metade amor
Toda a resposta gera vida
Dita ou não dita
Não se acha teto
Tábua ou concreto
É de flutuar com a dor
Amor.
Toda a mão que é dada
Encosta a alma
Sinto o cheiro teu de flor
Sabor enxarca lingua minha
Pele tão sozinha
Meio assim sem cor
Toda a pedra é pra ser chutada do caminho
Pra pedir carinho eu sei de cór
Vem cá benzinho, vem cá benzinho
sábado, 25 de abril de 2009
Avenida Farrapos
Que invadem a facadas, mesmo delicadas, os corações
Eu queria ter certa harmonia pra te encantar
Nessas madrugadas em que a gente paga pra terminar
Sei que sonhos são fisgados nesses vãos
Mesmo por mãos que insistem negar
Feito as minhas no tremor da oração
Poque se vê o que se quer, e eu não quero ver o teu perdão
Certas madrugadas são pra ser jogadas na escuridão
Que cegam as respostas, ganham as apostas e fingem que não
Eu queria ter músicas bonitas pra te cantar
Nessas madrugadas que meu mundo pára pra te adorar
A mentira, na verdade, me abraçou
Acreditar só me faz ser o que sou
Sei que sonhos são fisgados nesses vãos
É o que acontece quando vou pescar, e me percebo uma ilusão.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Quando a noite desagua em dia
Ouvia o nó do meu coração apertando
A miudeza das pedrinhas que meus pés iam chutando
No caminho de volta para a cama vazia
Te olhava e não te via
Teu semblante me escapara
Logo, assim, minutos adiante
Me jogava novamente no escuro, errante
A caminho de um sono que não repara
Cada vez que entras, meu peito arde
Toda vez que vais, tu me invade
E sonho um sonho sem fim
Querendo mesmo te fazer alarde
E assim te ter num poquinho de minha vida toda
Só pra mim
domingo, 12 de abril de 2009
terça-feira, 7 de abril de 2009
Diz Que Sim Dizendo Não
E eu tentando esconder meu chão
Num carpete de coração,
Gelado feito a mão que estendi para mostrar
A minha condição de ser mulher
Que diz que sim dizendo não
Nem esperei o sorriso terminar
Fiz menção de lhe beijar
Um beijo cheio de aflição
Cansado de encostar nas bocas tortas da ilusão
Tremendo por temer nunca aprender
A lingua que é falada no amor
Enfim acariciou o meu pescoço
Disse q'inda era moço
Mas certeza não faltava em seu olhar
E eu me derreti, tirei a roupa
E o frio ardeu-me, me pôs louca
Então amei desesperada
Sem rima, sem sentido nem estrada
Pela primeira vez encharcada
De tanto amar
terça-feira, 31 de março de 2009
Deixa o que é Paris pra lá
Se eu beijo é porque quis
Não pinto o meu nariz pra amar
Tira as boias dessa mágoa
Se afoga na canção que fiz
Quem disse que é ilusão
Viver de água e pão feliz?
Ne me quitte pas, me deixa ser teu par assim
Pequeno é quem não vê, amor
Que o coração do mundo é aqui
Despe a altivez, nem vem falar inglês também
Pequena, eu só te quero bem
E aqui a gente fala amor
Bota o teu cantor na boca
Meu corpo é teu cachecol
Com chuva ou com sol
Largo até meu futebol por ti
segunda-feira, 30 de março de 2009
Sobre como palavrinhas combinadas
Com riso ou com pranto
Me fazem mesmo é cerrar o punho
Fazer rascunhos de mim mesmo
E nunca publicar
Talvez, eu mesmo, só me saiba em rabiscos
Feito música feita em apitos
Um esboço de qualquer coisa
Que se entende ter certa beleza
Mas passa longe da certeza
Do vislumbre dos olhos do coração
sexta-feira, 27 de março de 2009
Sambô
Abafar a dor do peito
Com a dor que a perna dá
Sambo no limite da agonia
Ironia é que sempre lembro
Tempo em que era real fantasia
Sambo por beber tanta saudade
Vontade nem é muita
Força falta, sobra idade
Sambo porque o samba me brota
Entorta o chapéu em que me escondo
Abre a fresta da tua porta
Sambo só
Só pra te negar
Sambo mesmo pra mentir
Que samba é o riso de te ver chegar
quarta-feira, 25 de março de 2009
E me contento em só te saber
Porque nada é tão feliz quanto o tempo
Que como vento passa, mas não se vê
E eu boba sorrio
Achando bonito não te ter
E digo coisas de mim mesma
Só pra te fazer sofrer
Não importa o número de vezes
A vida toda se for
Olho sempre como quem nunca quis
Porque toda mulher fala, mas nunca diz
terça-feira, 24 de março de 2009
Inverno em Tudo
Inverto, mudo
Calado surto
Era tu meu verão
Inverno em tudo
Saudade, o sumo
O peito surdo
Era tu meu violão
Vê no teu olho
Não sou ninguém
Branquinha, vê que nada tens em ti de mim
Nunca mais, nunca mais
Agora inverno em tudo
Invento o teu mundo
Porque no meu
Tem amor demais
sexta-feira, 20 de março de 2009
Passa assim
Doente de tão franco
Feito tapa na cara
Contrastando com a fala
Arrastada e perdida
De uma noite bandida
Negra e contente
Como se ter dente
Fosse requisito pra sorrir
Um dia em branco
É sempre meio cinza
Não é luz nem pranto
Feito eu, ninguém
Um amor que não contém
Nem suspiro nem carinho
Derrubando o passarinho
E queimando na brasa
Como se ter asa
Fosse requisito pra voar
Um dia em branco
É só um dia
De se abraçar na agonia
De se perder a fé
terça-feira, 17 de março de 2009
segunda-feira, 16 de março de 2009
O Medo
Que o medo é armadura
É o frio que dá na espinha
O olhar que não encontra paz
Leva o que tenho e me atira na miragem
Que o medo é empenho
É o crânio inventor da coragem
O custume que distraí o andar
E agora é exato o meu caminho
Ter medo de ser assim tão sozinho
É o que me faz apaixonar
Depois que a vida muda
E o amor se faz presente
O medo aparece de repente
O medo de perder
E sucumbi aos temporais o que era tão perfeito
Que o medo é ciúme
É a dor que dá no peito
A certeza de um nunca mais
terça-feira, 10 de março de 2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
Eles Asfaltaram a Rua do Meu Amor
Melhor seria se pegassem assim, pedaços do meu corpo, da minha alma, de tudo o que há em mim, para engrossar esse “progresso”, esse piche escuro, essa beleza mentirosa. Pegassem então, um tantinho da poeira que ficou guardada nos meus olhos. Pegassem as pedrinhas que agora habitam a sola do meu sapato. Aliás, sapato esse que ficou imprestável, tamanha tristeza que me causa só de olhar pro coitado, que não tem nem culpa. Porque o meu amor eles não pouparam da desgraça bruta, e aí de que vale o resto?
Ah! Aqueles espaços encharcados de sentidos, encaixados, envolvidos, cada um com seus avisos, suas armadilhas. Recheados de famílias de formigas e besouros carregando os restos de folhas pra cima e pra baixo, dando vida própria à rua quando se olhava lá da esquina. É... você não imagina o que era olhar da esquina e ver aquele oásis onde nada se repetia, onde dia após dia revelava um segredo...
Primeiro eu me apaixonei pela rua, talvez só por ela, não sei. O fato é que, num bendito dia do qual seria mais um dia comunzinho, daqueles tantos em que o branco da rotina pinta a memória da gente, deu na veneta de comer chuchu. Não sei explicar muito bem de onde veio isso, deve ser dessas coisas de destino, ou intestino, sei lá, só sei que me bateu uma vontade louca de comer chuchu enquanto voltava do escritório. Eu mesmo achei estranho quando veio aquele gosto na boca. Demorei a viagem toda no ônibus tentando decifrar aquele sabor de nada com temperinho verde, pensei nas coisas mais esquisitas, sempre com o temperinho, e nada. Duas paradas antes da minha me levantei, como sempre fazia, não interessava se a condução estivesse lotada ou vazia, era eu olhar aquela placa das Casas Bahia para automaticamente minhas pernas flexionarem, mesmo naquele dia em que o paladar já me causava agonia. Levantei, e distraído com o tal gosto de vento com tempero verde, esbarrei numa senhora gorda que também havia acabado de levantar, toda desengonçada, carregando umas quinze sacolas de supermercado, todas cheias até a boca. No encontrão uma delas escorregou pela mão fofa e suada da senhora, e acabou com o meu dilema paladarístico. Ufa! Olhei pro chuchu, balancei a cabeça e comecei a rir. Ora, tão fácil, né? Chuchu! A senhora, que tinha cara de Cleuza, mas se chamava Jandira, não gostou nada da minha risadinha e logo se armou com uma cara mais feia do que a que ela já tinha, e deu pra perceber o esforço dela enrugando com dificuldade a testa já enrugada. – Ta cego, seu bosta? Disse ela. Saí do meu êxtase pós-descoberta e lhe pedi desculpa. Pensei comigo que, cego nada; se fosse cego iria passar boa parte dos dias seguintes comendo coisas feito louco, pra descobrir que o meu desejo era por uma coisa tão simples e que eu nem gostava tanto assim.
Juntei o chuchu e mais algumas frutas que caíram pelo corredor do ônibus e me ofereci para levar algumas sacolas. Ela desenrugou o rosto, deu um sorrisinho de lado, agradeceu e me deu mais nove sacolas. Tentei disfarçar a cara de: Mas que folgada! Não sei se consegui. Ela então puxou a cordinha, e foi como se aquele ato transformasse tudo, e agora ela fosse minha melhor amiga. Nunca vi lábios tão fininhos, afiados e com a capacidade de falar tantas palavras num espaço de tempo onde sempre dava a impressão de que não caberia.
De repente continua...
sexta-feira, 6 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Me tornei melhor amiga do meu bem
Melhor por perto do que sem
E no descuido, por vezes, afago seu braço
Como recompensa, meu pedaço de carinho
Faço de seus pêlos o meu ninho
Mesmo que esse sono doa tanto
Cheirando ao pranto daquela outra
E é tanto nó que a voz encontra
Que de certo rio. Um riso triste, um arrepio
Que pra ele é frio, minha agonia exposta
E num piscar, assim, me encosta
Fecha a porta e me deixa nua
Me veste o corpo com uma armadura
Pra censurar o que perdura em minha pele
E encantador, sem dó, me repele
Então derramo, tarde da noite
O que vivi no açoite do dia
Uma escassa e mentirosa alegria
Pelo corpo de alguém que me perdeu
E me dou para um ex-namorado meu.
Compositor
Organizar em notas a tristeza de não ter um amor
Descobrir acordes no formato do teu rosto
Que me dessem pelo menos esse gosto de te amar
Você me seria até bonita
O desencontro em quartas e a desilusão em quintas
Tudo em tom maior contrastando com esse pranto
Que troxesse um pouquinho de encanto para cá
Ah, mas minha voz já nem existe
Eu só faria canções tristes
Pois na escala do meu violão largado e batido
Não existe não, amor escondido
Não existe não, um sentimento sustenido
Receita da Vida (Sem Chocolate)
Eu bebo um horizonte amarelado
Desato a noite pelos teus cabelos
E de encanto eu fico embriagado
O desespero passa pela porta
Eu choro um milhão de madrugadas
Talvez o tempo atire nos teus olhos
Essas estrelas que me são negadas
Assim, eu bebo a noite pelos olhos
E de madrugadas fico embriagado
Desato a escrever um desespero
Enquanto o horizonte me é negado
O céu atira o choro em teus cabelos
Um amarelo escuro encantado
Na porta para um milhão de estrelas
Talvez meu tempo já tenha passado