segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gratidão

Eu sou grato;
Apesar de não ter sapato,
Ando pelo mundo
Vagabundo, artista
O botequim é minha revista
O uísque, o sorriso e o abraço
São meus pães
Mas, mães não são mães
Mãe é mãe!
Ainda mais quando é professora
Matemática e poesia não rimam não
Com todo perdão,
O que rima é: Mãe e coração.
E todo meu legado,
Mais sincero, mais valente
É um grito estridente
De muito obrigado.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Calos

De papel em branco
Tão raso, tão santo
Dúbia, a mente nossa, é feita
Que possa, um dia, ser fábrica
Ser riso de lágrima
Ser coro, segundo a náutica,
De um vento só

Noroeste, sudeste,
Jangada e cipó
Que eu trepe com você
Sem pensar, em momento nenhum,
Como descer;
Ascender à partir dos fogos,
Ao invés de esperar o fogo acender

Os calos não são regras
Muito pelo crontrário,
São pregas na alma, são silêncio
E calado, encontro o que me falta
Enquanto falas como se fosse um cú

Eu nasci nu
E tu?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quântico

Quântico cântico
Certo ou não
Da borda pro fundo
Do infinito coração

Todo dia me some uma nota
E me brota a mudez branca
Ensaio a cegueira de José
E o que sobra me espanta

Porque cego, vejo mais do que quem vê
E mudo, canto mais do que quem canta.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Samba e Amor

Vai alta madrugada em Botafogo
Envolvo meus passos no ritmo da canção
Talhada a encanto, suspiro e beleza
No fone interno da minha cabeça

Planejo cada acorde
Para que não te acordes
Desse nosso mundo
Toda pausa é um beijo
E, pra tua "covinha", me mudo

Do teu cheiro no meu braço
Faço um naipe de sopros
E o Baixo Voluntários todo dança
E caminho até em casa, compondo
Porque amor é música
E quem ama não cansa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sinestesia

O choro alegre de Anna
Na cama, formava poças
Rosas e sais, lama
Casais ancorados ao cais
Só Anna, só, Anna

Tudo que é sentido
Sentido faz
Calafrio na sauna,
Irresponsabilidade capaz
Só ama quem tem tino?

O sorriso amargo de Anna
Engana. É muito rio
Pra pouco barco
Felicidade gris
Flecha sem arco.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Cadê o Interruptor?

Madrugada a beira mar
A calçada imitava o meu andar
Procurava sem saber o que encontrar
Obviamente ativei minha visão,
Visão de raio x

O desespero me bateu
Meu cigarro de repente se acendeu
Quis gritar, mas minha voz emudeceu
Meus amigos me atiraram à solidão
O que aconteceu?

As vezes as respostas estão no escuro
Cadê o interruptor?



Música pro filme Kabbalah

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Instantim

Quem trocar o tempo pelo vento
Sempre irá chegar
Armado de horários, a mando de sorrisos
Sempre disponíveis em qualquer lugar

Quem corre pra alcançar, cansa de escapar
Num fio que é minuto
Ponteiros tão precisos
Sempre imprevisíveis a quem precisar

Hoje, o vento voa e leva o tempo meu
Não te vejo rir agora,
Mas, quem sabe em uma hora,
Eu encontre o tempo teu
E traga ele pra mim
Só um instantim, só um instantim

Apressa o que é de se viver
Conversa o que é de se matar
Avesso é o resultado. O inverso presumível
E o assovio do vento sempre lá

São, tão leves, corações parados no ar
Olhando seus relógios
Amando de suspiros
Sempre tão incríveis pra poder ficar

Hoje, o tempo voa e leva o vento meu
Não te vejo rir agora,
Mas, quem sabe em uma hora,
Eu encontre o vento teu
E traga ele pra mim
Só um instantim, só um instantim...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Do Relógio

Que eu tenha a vida pra te curtir
Rezei agora
Batem altas horas, vídeos e poesias
Cigarros acesos na maresia
Chegam lembranças boas
De minha alma pura

Horas se estendem
São bem mais que aparentam
Um filme, letra, música, poema
Que invadem as horas distantes

É bem mais do que vejo
Pede bem mais do que percebo
Vai além no pensamento,
Toma as rédeas do meu tempo

Durante a música, nos visitam anjos
Visito minha criança
Minha dança
Meu amar
Divino abraço em fim de jornada longa

E pro anjo entrego a dança
Compassada na súplica de menina
Que haja verdade, Luz e alegria
E bem mais tempo no meu dia.


V.K.

sábado, 23 de outubro de 2010

Ketchup e Mostarda

-Venda nos olhos é pior, Maria Eduarda!
Se não vês, sentes em dobro
Da ladra dos sonhos ao consolo em riste
É triste, medonho e desesperador
Tatear a dor, esperar redomoinhos
Abraçando os espinhos e sorrindo
Sorrindo em loucura, loucura de ranger os dentes
Só porque teu horóscopo, há três anos, disse:
"O que os olhos não vêem o coração não sente"

Sente, sente! Sente aqui e espere comigo!
Vamos fazer de nossos umbigos planetas
Até que cometas nos façam inimigos
Vamos desabraçar as nuvens e abraçar os relógios
Esperaremos inglórios! Escreveremos à caneta!
Para que nunca se apague no tempo
Tempo esse de espera cega, de entrega
Dez minutos de sermos tudo!
Não nega! Não nega!



E se abraçaram, casaram e ficaram cegos
Se misturaram nos acertos e nos erros
Como pizza e brigadeiro
Com ketchup e mostarda
Pablo Roberto e Maria Eduarda.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Saudade

Tirava o chapéu com pesar
Apesar do penar, sorria
Mordia o choro, salgado
Delgado e finito, dormia

De supetão despertava
Apertava o peito, quebrado
Armado de cacos e agonias
Aprendia a penumbra, esgotado

Atirava o sapato no carpete
Querer-te, querer-te
O pensamento lhe invade
Faltavam ainda três horas
Uma eternidade
Pra quem sente saudade.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cartão de Aniversário para Matheus

Esse negócio de aniversário, na verdade, é coisa dos Atwisvky's, que plantaram isso como uma semente errática, verborrágica e malígna para inflar nosso ego, ainda nos idos de 2.347 A.C, e nos sentirmos, apenas em uma data do ano, um pouco mais especiais. Na verdade somos espaciais! Portanto, especiais até quando os dias não são dias. Sim, porque existem dias em que a gente só passa, como passa por uma vitrine. Deseja viver, mas não vive. Feliz daqueles iluminados, como tu, que enxergam isso, e são especiais e essenciais 730 dias por ano!
Mas pra manter o cerimonial padrão: Feliz aniversário!
Te amo.
Um beijo grande!
:)

sábado, 9 de outubro de 2010

Acorda Tião!

Acorda Tião
Que o mundo já começou
Acorda, porque a corda
Já te alcançou

Ai menino, não faz
Do plantio brinquedo
Não quero te ver
Colher veneno

Na praça, no asfalto,
No quintal
Nos olhos fechados
Pelo mau
Na leve impressão
De pressentir
O quanto é miúdo
O existir
No tanto de sorte
Que faltou
Pois justo no azar
Só se falou
Na língua que teima em ser maior,
Tião,
Do que o próprio céu

Agora, Tião,
Que o mundo já se acabou
Acorda pra ver a corda
Que te enforcou.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sintonia

Nutrir-se, respirar, transformar-se
Amar, ser todo dia um novo invento
No vento que sopra quando damos as mãos
Nos verbos e adjetivos que faltam, nos sins e nos nãos
Muito mais sim, mesmo quando em sonhos, só, se derramam
E se misturam, nossa tez, nosso ar, nosso riso

Nosso pouco é tão maior, que se perde no horizonte
E passo longe, e passo perto
No frio do Oceano és meu Sol
Quando sou água no teu deserto
E vejo minha imensidão nos teus olhos puxadinhos
E beijo tua boca de Condessa sempre pela última vez

E me rasgo de vontade, e te mordo com verdade
E me expulso de mim, e te vivo
E me sinto cada vez mais eu, mais teu, mais nu
Cada vez mais sou mundo; o mundo todo vibra em amor
Eu e tu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Pasta. ;)

Sempre que me vejo em saudade
Me invade, tão pura, tua voz
Assim, um S.O.S, uma verdade
Uma lágrima minha é tempestade

É a distância. É a vontade que não passa
Encho minha pasta de lembranças
Com essa fonte que não me agrada
Maltratadas canções tristes e pesadas

Mas faço isso pra passar o tempo
E depois esvaziar tudo, jogar no espaço
E encher minha pasta com teus carinhos
Beijinhos e afagos
Pra quando te encontrar de novo
Me perder no teu abraço.

domingo, 3 de outubro de 2010

O Fundo do Meu Poço Tem Mola

Que a tristeza é a semente da alegria
Via agora, da borda, o azul do dia
O bem de se saber sorriso
Das mãos da guria no meu cabelo
Do abraço encaixando, preciso

Que a alegria é a semente da esperança
Dança agora, teu samba, meu peito
E pula, e ri e chora feito criança
Que a agonia se afogou de jeito
E a luz me bate e me transforma

Que a esperança é a semente da paz
O Jazz que o teu olhar me traz
O tom maior que coloca na minha canção
O teu cheiro no meu pulmão.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Riso de Condessa

Não era carnaval
No Cordão do Bola Preta
Mas vinha lenta, de um jeito tal
A cadência do teu carinho
Que o frio do meu peito
Até hoje esquenta

Era carnaval nos nossos olhos
O imbróglio das mão se procurando
Os toques involuntários
Incendiários abraços, as bochechas queimando
Aquele riso de Condessa, o cangote e o queixo
O beijo

Não era carnaval
No Cordão do Bola Preta
Essencial pro resto da festa
Era nosso próprio carnaval
O puro amor sem juras
Nem promessas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Escafandro e a Borboleta

Nesse mundo onde bruxa é fada
Não me encanto mais com nada
Canto porque é só o que me resta
E todo meu amor
É um beijo na testa.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Viajei

Ancorado. Só, Pacífico
Deixo o vento atípico
Morno e salgado
Tornar-se companhia

Via na imensidão esverdeada
Minha namorada, minha agonia
Me afogava em ventania
Respirava a água gelada

Quando era tempo de terra firme
Me passava um filme
E não ousava voltar
Me casei com as ondas do mar

Parti porque não gosto de alegria
Não! Não desta fantasia do homem
Sou feliz como um peixe
E trilhões de litros, minha casa
Nado, nada, direto e ao contrário
Mas sempre fora do Aquário.

Bolero de Uma Noite com Sofia

A ti soltei o perfume da terra
Toquei no nada
E para ti foi tudo


Para ti criei todas as palavras
E todas me faltaram
No minuto em que talhei
O sabor do sempre

Para ti dei voz,
Às minhas mãos
Abri os gomos do tempo
Assaltei o mundo
E pensei que tudo estava em nós
Nesse doce engano
De tudo sermos donos
Sem nada termos
Simplesmente porque era de noite
E não dormíamos

Eu descia em teu peito
Para me procurar
E antes que a escuridão
Nos cingisse a cintura
Fitávamos nos olhos
Vivendo de um só
Amando de uma só vida

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Real Beleza

As pedrinhas espalhadas pelo passeio
São as partes do meu anseio, que já foi inteiro
É desastroso, doloroso e agoniante
Consiguiste tornar passante o que era permanente

Já havia perdido o amor presente
Mas quebrou com os dentes o amor passarinho
Já que mentes como quem respira; Esqueces
És pequena mesmo, e sei que não parece

Não te quero mal
Pois não é do meu feitio a vingança
Pelo contrário; tenho esperança
Quero que venha macio o que te faz feliz
Quero que o entendimento tome o lugar da fraqueza
Para que quando a máscara caia
Se mostre a tua real beleza

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ilmo Sr. Pedro Américo

Era o Sr. Américo quem ditava o amor na madrugada
Como que redescobrisse a amada naquele quarto escuro
Uma disparidade; opróbio e dignidade
Ele próprio, só, e duas metades

Mas ensinava, como um médium, sem saber a imensidão
Como se o amor fosse o pão, o remédio
Uma barbaridade; o ócio e a vontade
Os dois nus, ele só vaidade

Acabou o ditado muito antes do esperado
Como quem, calado, entende a dor
Uma contrariedade; o inseto e a flor
Partiu confuso, o professor
Não admitindo tanto amor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Da Sandália

Que da letra, redonda, fez-se garrancho
E do espírito, que ronda, um gancho

Atravessas meu coração
Mas não o partes
Porque partes em contradição
Porque partes o que é inteiro

Que da vida, medonha, me abstenho
Mas tenho deveras amor; devaneio

Atravessas o quarteirão
Quase me bates
Mas, na pressa, pegas a contramão
E um caminhão carregado de minha voz
Te bates

Pra dizer que sim
Pra dizer que não
Pra dizer que amor não é fogo
É canção.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Chama Rosa

Chama Rosa e o Raio Rosa trazem como uma alquimia espiritual que derrete, dissolve e afasta de nosso mundo do sentimento toda adversão, toda sensação negativa, toda pressão de energia destruidora que ainda jaz no íntimo de nossas recordações.
Esta obsessão foi causada no passado por nossas recordações infelizes. Isto formou, em nosso corpo etérico, profundas chagas e cicatrizes. As lembranças surgem quase que imperceptíveis e novamente destilam o veneno das velhas inimizades, das rixas antigas e do mal-entendido.
O homem não sabe o fardo que arrasta consigo e qual a profundidade da cratera onde se encontra cravado. A isto a ciência chama de subconsciente. Bem no fundo desta cratera estão encravadas todas as recordações das experiências, desde o primeiro dia quando nossa emanação de vida “caiu no desagrado da Graça Divina” até o presente momento. O Plano Divino une sempre determinadas emanações de vida, enquanto trazem consigo as ainda não dissolvidas recordações de antigas desavenças. Para cada pessoa existe a Misericórdia Divina e constantemente nova oportunidade para pôr em ordem todas as coisas.
Justamente agora somos, novamente, conduzidos para entrar em contato com as emanações de vida com as quais ainda não estais em perfeita sintonia... Mantenhamos, conscientemente, perante nossos olhos a imagem da perfeição para cada uma destas pessoas!
Deixai acrescentar a isso a pressão do incondicional sentimento de amoroso perdão, perante estas emanações de vida! Quando isto for realizado por nós, então seremos libertados do retorno da energia de nossos erros do passado.
Nosso coração nos leva, como a corrente marítima, e nos derruba, como as ondas arrebentando na praia. É preciso saber esperar e aprender a sair de lado, aos poucos. Respeitar não significa concordar ou ficar submisso, mas reconhecer a intensidade de nossos sentimentos para poder lidar com eles. Como disse o genial Ataulfo Alves no samba Vai na paz de Deus: Sei que tua ausência vai causar meu padecer, mas com paciência poderei te esquecer.

A emoção é o nosso motor, sem ela ficamos parados. Sem a razão que a oriente, a emoção nos faz mover sem direção. A razão é o leme, que dá direção aos nossos sentimentos e deve comandar nossa vida afetiva usando os recursos de inteligência que possuímos. Ela sozinha não pode nos mover, é necessário que a emoção nos impulsione. Só assim se pode chegar à felicidade.
Deus nos proteja
Do lobo em pele de cordeiro
Que quem almeja o bem
Tem proteção
Tem, como Jorge, um peito guerreiro.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Domingo no Semente

Era eu, você na mente
Os Arcos, o samba do Semente
A cerveja, a chuva
O riso, a curva

À espera, a noite toda
"Saudade fez um samba em seu lugar"
O pranto debochando, a conga
A mágoa solitária de estar

Era eu, um amor vertente
Sob os Arcos, você ausente
A cerveja ajuda, a madrugada
A chuva traz o cheiro da amada

Sambo em desespero
"Quem te viu, quem te vê"
O coração dispara, espero
Tomo um último gole sem ver
Imagino você
Vou embora, nu.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Musiquinha nova e pããã...

É de caminhar com a mão no bolso
E assoviar sem som,
Que me entendi no tempo

Tempo é curto quando é bom
Vence até o medo,
Mas pra maldade é lento

Por isso é que eu penso em você
Por isso que amo demais
Pra ter mais coragem de ser só um
E morrer de amor sem mal algum

É de calar quando se fala
E cantarolar à toa,
Que amanheci pra vida

Vida é curta quando é boa
Dura um só sorriso,
Pra quem reclama é longa

Por isso é que eu penso em você
Por isso que amo demais
Pra ter mais coragem de ser só um
Morrer de amor faz mal nenhum

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Passarim

Compartilho, em parte, da idéia de que temos que fazer o que temos vontade pra ser feliz, realizar os nossos sonhos, viver uma vida plena, etc.
Porém, nós somos feitos de palavra e ação. Somos feitos de relações. Normalmente quem age pelo impulso de fazer pra não se arrepender depois, esquece que o outro tem o mesmo direito e que as vezes os atos vão na contramão das palavras. O que machuca não é realizar, é a forma como isso é feito.
Tenho sempre a preocupação pelo respeito e pela consequência. É chato? Pode ser, mas aí você consegue atingir o objetivo de maneira mais coerente, menos obscura, realmente FELIZ e sem invadir o espaço do outro.
Acho um tanto quanto perigosa essa história de "aja duas vezes antes de pensar".
Não é uma questão de amor, não. Aqueles que amo sempre me terão, sem qualquer barreira ou fronteira.
Porque o amor está bem acima disto.
O amor flutua.
O amor não precisa de asas pra voar.
Se somos seres feitos de amor, precisamos prestar mais atenção nisso.

Beijo, me liga!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quando vi já estava lá
No meio da ventania
Meu rosto no espelho
Coberto de areia
Areia fina assim, como você
Turvando meus olhos
A rua do desencanto
Eu canto, eu canto
Eu passo

Eu, morto de amor
Num canto qualquer
Da garganta arranhada
De voz falsa, de voz calada
De melodia triste
Meu dia é noite
Com o zelo de que leva o andor
Eu velo, agora, a paixão
Pra ver se nasce um novo amor

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tem gente
que mente
ao invés de trabalhar
fica a atrapalhar
ao invés de trabalhar
faz trabalho.

Ah, sai pra lá!

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Elevador de Deus

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar viva todo dia.
Há dores que, sinceramente, eu não resolvo,
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas


A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento

Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!

Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde você tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Beijo

Descobri-me em um sorriso
Isso porque era lágrima
Bati no teu lábio, preciso
Degustaste o sal da lástima

Perdi a limpidez
Da vergonha se fez saliva
Os teus dentes mastigaram a timidez
Me fiz desejo, no macio da tua lingua

Quis nascer pra sempre choro
Desses que acompanham o teu riso
Pra, de beijo, morrer mouro
Outra encarnação, nos teus olhos, eu exijo!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Maresia

Então a maresia noturna de Copacabana me corroeu
Logo eu, pensei.
Minha ressaca ali nas ondas do mar
Como um sorriso teu bem de perto
Quase um beijo. Ímpar
Me vi salgado, deserto
De certo assim, com a alma à mostra
Encosta-me a solitude; ambar

Um saveiro contra a rocha
Quem seria o marinheiro?
Quanta dor já desabrocha
Até parece que, da fila, eu sou o primeiro
Olho pra trás, te vejo em milhares
Mas quando me olhares, quem verás?

Minha ressaca ali nas ondas
Dou um sorriso pro chinelo
Como o sol que desponta, amarelo
A saudade me esconde a alma
O sono eu cancelo
Sofro porque sou feliz
Amo porque quero

terça-feira, 13 de julho de 2010

Há Braços

Há braços que me apertam
Não mais o corpo, mas o peito
Alardeando o sentimento, libertam
A lembrança da pequena; me deito

Abraços com gosto de choro
Sorriso não mais consola
Nunca mais, nunca mais me apaixono
Mentira! Mentira que não cola

Há braços e abraços
Dos teus nunca mais
Nunca mais me envolveram
Mas sinto o teu cheiro
Quando aperto o meu coração

sábado, 10 de julho de 2010

Choro de Perdão (Daniel Basilio e Tiago Rosa)

De pé em pé vou acordando o assoalho

Barulho páreo pra deixar você em pé

Encabulado, te aceno de soslaio

Mas o perdão é mais amargo que o café



É dia de morrer de amor

E se não for, que seja dia de paz

Vou viver de ser cantor

Enquanto a vida vai e vem e vai



Enquanto o sono da manhã chega aos meus olhos

Eu te procuro no arranjo do buquê

E quando vejo, já te beijo e perco os modos

Amando tanto quase sempre sem saber



É dia de morrer de amor

E se não for, que seja dia de paz

Vou viver de ser cantor

Enquanto a vida vai e vem e vai



Se, na verdade, só vês

Coisas demais, sem razão

Entrego à tua mercê

Restos do meu coração



E vou viver poeta, enfim!

Se nunca fosse, o que seria de mim?

Seja não por isso, amor,

Aqui não está mais quem falou

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Instrumento

Antes tudo era pressa
Fome de tempo passando
Promessa de puro desengano

Parti, como quem parte o desfecho
Gula de opções dolorosas
Desleixo da coerência

Ora, eu já sabia!
Como em um cartaz de estádio
Cabia em mim só mais pinguim de dor

Transbordando, assim, me vi vazio
Como um terno no cabide
Vazio de carne, dor e tempo

Congelo, agora, o alimento
Pra que a fome venha lenta
Lento como se deve amar
Lento como a confecção de um instrumento

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tanto faz.
Faz tanto tempo.
Tempo faz só desencontro.
Desencontro faz arder o peito.
O peito congela a cena.
A cena se esvai com o sangue.
O sangue evapora com o vento.
O vento sopra distante.
Distante como o lamento.
Lamento que seja tão recente.
Recente como a lágrima que brota.
Brota, desatenta, uma canção.
Canção que fala de tempo.
Tempo que é só desencontro.
Desencontro congela a cena.
O peito arde em um aceno.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A casa cheia de silêncio
Mas uma quietude que é toda minha
Minha amiga, meu adorno

Hoje não corro pra explicar o que fiz
Mas, sim, caminho em direção ao que farei.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Minhas noites de enxaqueca são reveladoras
Mas ao invés de fotos, é como se abrisse uma tela
E a dor maior já nem é a física
Mas sim das imagens que se formam, tão nítidas
E a agonia lancinante passa a ser amante
E se mantém viva, regada a sangue, no peito
Os fios são desfeitos
Mas fica o malogro de uma esperança.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Os dias passam...
O hoje é tão diferente do ontem e o amanhã, tão desconhecido, mas será trilhado, momento a momento, pela tua presença, preenchendo os espaços vazios com a tua criação, com a tua vontade, com a tua necessidade...
Tua alegria ou tua tristeza, tua calmaria
ou tua pressa, tua quietude ou
tua loucura desenfreada...
Mas, tudo isso perde a importância diante daquilo que pulsa silencioso em ti,
abençoando teus passos, amando, amando intensamente cada fio de luz que te compõe, pois sabe esta luz de onde vens.
Se permaneceres atento, verás que é esta luz que dá sentido para teus longos dias, e se a ela te submeteres incondicionalmente, não demora e alcançarás a tua plenitude, a qual se aloja exatamente na tua entrega a este guia, que poderás chamar de amor.
Dá atenção a isto, e somente a isto, e verás
que toda emoção, todo pensamento que dele advir será tão somente para mostrar-te
que és mais e que brilhas intensamente
acima das nuvens escuras que
ainda acreditas serem reais.
Não podes ficar atado àquilo que
não traz a tua alegria, a tua expansão.
Dá atenção a isto para que
tudo possa dar certo,
para que através da tua escolha tu possas crescer e estender o teu crescimento
ao que te espera neste dia.
Quando o teu olhar está voltado para a luz,
o círculo se abre e no seu movimento
encontras o novo.



mamãe

terça-feira, 1 de junho de 2010

Não dormi mais nada
É a saudade elevada à milésima potência
Carência de um peito que é só agonia
Revelia, descompasso
Saudade da paz que há tanto não tenho
Do rapaz que eu só era
Saudade dela!
Juntando os meus pedaços
E me reconstruindo em sorrisos e laços
E abraços e carinhos
Vou voltar pro meu cantinho
Vou sorrir e vou chorar
Não interessa
Só tenho a pressa, a urgência de quem ama
Á beça!
De encaixar de volta na minha engrenagem
A tua peça, minha razão
Sem teu riso a terra pára
E junto meu coração.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sangramento

Vai, devolve meu formato que hoje o meu sapato já não cabe em mim
Vai, me alforria o peito que hoje a cruz do leito rasga o meu cetim
Vai, renova o guarda-roupa que hoje a carne é pouca pra tanto algodão
Vai mas saiba sobretudo, que hoje o sobretudo arrasta pelo chão

Vai, me autoriza o riso que hoje eu só preciso de mais circo e pão
Deixa eu me esquecer da história, me concede a glória de outra encarnação
Vai que esse meu corpo todo agora é só um porto de injuria e dor
Submerge a nossa nau perdida pra que eu nem consiga relembrar da cor

Vem, reforma a minha alma, remodela a calma com pedra-sabão
Vem, me reconstrói a cara em pedras de carrara, me remenda a construção
Vem, vê se suporta o fardo que hoje o mesmo dardo crava o peito ateu
Vem e me estanca tempo que esse sangramento ainda é sintoma teu


Vinicius Castro

sábado, 29 de maio de 2010

Moinhos de Vento




Cato o vento pra salvar meu cantinho
Cata-vento de carinho

Gira lento como a terra
Rangendo, ode à guerra

Me queimando o coração
Vai o vento espalhando a canção

Busca o peito a água benta; redentora
Mas tudo o que resta me enxarca o olho
Chora.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Num projeto de casa sem janela
Ela já era lembrança
Um cheiro, uma roupa, uma lágrima
Eu criança
Chorona, chorava com um bilhete na mão
Num projeto de casa branca; não amarela
Era o texto que brigava comigo
Eu, já velho vulto
Dou as costas pro amor
E volto a ser luto
Num projeto de casa vazia
Ela era o sorriso
Eu gemia.

terça-feira, 4 de maio de 2010

De pé em pé vou acordando o assoalho
Barulho páreo pra deixar você em pé
Encabulado te aceno de soslaio
Mas o perdão já estava pronto com o café

terça-feira, 9 de março de 2010

... e rasga meu peito como se fosse um cetim
e com jeitim me oferece um novo de seda
mas o que fica é sempre a dor da perda
que eu disfarço, vestindo teu carrasco
virando mais um arlequim...