segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sangramento

Vai, devolve meu formato que hoje o meu sapato já não cabe em mim
Vai, me alforria o peito que hoje a cruz do leito rasga o meu cetim
Vai, renova o guarda-roupa que hoje a carne é pouca pra tanto algodão
Vai mas saiba sobretudo, que hoje o sobretudo arrasta pelo chão

Vai, me autoriza o riso que hoje eu só preciso de mais circo e pão
Deixa eu me esquecer da história, me concede a glória de outra encarnação
Vai que esse meu corpo todo agora é só um porto de injuria e dor
Submerge a nossa nau perdida pra que eu nem consiga relembrar da cor

Vem, reforma a minha alma, remodela a calma com pedra-sabão
Vem, me reconstrói a cara em pedras de carrara, me remenda a construção
Vem, vê se suporta o fardo que hoje o mesmo dardo crava o peito ateu
Vem e me estanca tempo que esse sangramento ainda é sintoma teu


Vinicius Castro

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