terça-feira, 31 de março de 2009

Bota o que é Brasil na boca
Deixa o que é Paris pra lá
Se eu beijo é porque quis
Não pinto o meu nariz pra amar

Tira as boias dessa mágoa
Se afoga na canção que fiz
Quem disse que é ilusão
Viver de água e pão feliz?

Ne me quitte pas, me deixa ser teu par assim
Pequeno é quem não vê, amor
Que o coração do mundo é aqui
Despe a altivez, nem vem falar inglês também
Pequena, eu só te quero bem
E aqui a gente fala amor

Bota o teu cantor na boca
Meu corpo é teu cachecol
Com chuva ou com sol
Largo até meu futebol por ti

segunda-feira, 30 de março de 2009

Nunca uma folha em branco me disse tanto
Sobre como palavrinhas combinadas
Com riso ou com pranto
Me fazem mesmo é cerrar o punho
Fazer rascunhos de mim mesmo
E nunca publicar
Talvez, eu mesmo, só me saiba em rabiscos
Feito música feita em apitos
Um esboço de qualquer coisa
Que se entende ter certa beleza
Mas passa longe da certeza
Do vislumbre dos olhos do coração

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sambô

Sambo até me acabar
Abafar a dor do peito
Com a dor que a perna dá

Sambo no limite da agonia
Ironia é que sempre lembro
Tempo em que era real fantasia

Sambo por beber tanta saudade
Vontade nem é muita
Força falta, sobra idade

Sambo porque o samba me brota
Entorta o chapéu em que me escondo
Abre a fresta da tua porta

Sambo só
Só pra te negar
Sambo mesmo pra mentir
Que samba é o riso de te ver chegar

quarta-feira, 25 de março de 2009

Tanto há de ti que até me perco
E me contento em só te saber
Porque nada é tão feliz quanto o tempo
Que como vento passa, mas não se vê


E eu boba sorrio
Achando bonito não te ter
E digo coisas de mim mesma
Só pra te fazer sofrer

Não importa o número de vezes
A vida toda se for

Olho sempre como quem nunca quis
Porque toda mulher fala, mas nunca diz

terça-feira, 24 de março de 2009

Inverno em Tudo

Inverno em tudo
Inverto, mudo
Calado surto
Era tu meu verão

Inverno em tudo
Saudade, o sumo
O peito surdo
Era tu meu violão

Vê no teu olho
Não sou ninguém
Branquinha, vê que nada tens em ti de mim
Nunca mais, nunca mais
Agora inverno em tudo
Invento o teu mundo
Porque no meu
Tem amor demais

sexta-feira, 20 de março de 2009

Um dia em branco
Passa assim
Doente de tão franco
Feito tapa na cara
Contrastando com a fala
Arrastada e perdida
De uma noite bandida
Negra e contente
Como se ter dente
Fosse requisito pra sorrir

Um dia em branco
É sempre meio cinza
Não é luz nem pranto
Feito eu, ninguém
Um amor que não contém
Nem suspiro nem carinho
Derrubando o passarinho
E queimando na brasa
Como se ter asa
Fosse requisito pra voar

Um dia em branco
É só um dia
De se abraçar na agonia
De se perder a fé

terça-feira, 17 de março de 2009

Canto pra esquecer a dor da vida
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida

A tristeza é o grão
Saudade é o chão onde planto
Do ventre da solidão
É que nasce meu canto

segunda-feira, 16 de março de 2009

O Medo

Apura mira tua e atiça ira minha
Que o medo é armadura
É o frio que dá na espinha
O olhar que não encontra paz

Leva o que tenho e me atira na miragem
Que o medo é empenho
É o crânio inventor da coragem
O custume que distraí o andar

E agora é exato o meu caminho
Ter medo de ser assim tão sozinho
É o que me faz apaixonar

Depois que a vida muda
E o amor se faz presente
O medo aparece de repente
O medo de perder

E sucumbi aos temporais o que era tão perfeito
Que o medo é ciúme
É a dor que dá no peito
A certeza de um nunca mais

terça-feira, 10 de março de 2009

Mesmo com a voz chegando ao fim, num fio
Pequena, eu cantaria todo dia pra te ver dançar
Assim, com os olhos fechadinhos
Os versinhos que compus pra ti

Mesmo porque toda boêmia serviu
Somente pra botar um tom menor na minha folia
Assim, feito um choro de uma nota
Que só brota pra te ver partir

segunda-feira, 9 de março de 2009

Eles Asfaltaram a Rua do Meu Amor

Melhor seria se pegassem assim, pedaços do meu corpo, da minha alma, de tudo o que há em mim, para engrossar esse “progresso”, esse piche escuro, essa beleza mentirosa. Pegassem então, um tantinho da poeira que ficou guardada nos meus olhos. Pegassem as pedrinhas que agora habitam a sola do meu sapato. Aliás, sapato esse que ficou imprestável, tamanha tristeza que me causa só de olhar pro coitado, que não tem nem culpa. Porque o meu amor eles não pouparam da desgraça bruta, e aí de que vale o resto?

Ah! Aqueles espaços encharcados de sentidos, encaixados, envolvidos, cada um com seus avisos, suas armadilhas. Recheados de famílias de formigas e besouros carregando os restos de folhas pra cima e pra baixo, dando vida própria à rua quando se olhava lá da esquina. É... você não imagina o que era olhar da esquina e ver aquele oásis onde nada se repetia, onde dia após dia revelava um segredo...

Primeiro eu me apaixonei pela rua, talvez só por ela, não sei. O fato é que, num bendito dia do qual seria mais um dia comunzinho, daqueles tantos em que o branco da rotina pinta a memória da gente, deu na veneta de comer chuchu. Não sei explicar muito bem de onde veio isso, deve ser dessas coisas de destino, ou intestino, sei lá, só sei que me bateu uma vontade louca de comer chuchu enquanto voltava do escritório. Eu mesmo achei estranho quando veio aquele gosto na boca. Demorei a viagem toda no ônibus tentando decifrar aquele sabor de nada com temperinho verde, pensei nas coisas mais esquisitas, sempre com o temperinho, e nada. Duas paradas antes da minha me levantei, como sempre fazia, não interessava se a condução estivesse lotada ou vazia, era eu olhar aquela placa das Casas Bahia para automaticamente minhas pernas flexionarem, mesmo naquele dia em que o paladar já me causava agonia. Levantei, e distraído com o tal gosto de vento com tempero verde, esbarrei numa senhora gorda que também havia acabado de levantar, toda desengonçada, carregando umas quinze sacolas de supermercado, todas cheias até a boca. No encontrão uma delas escorregou pela mão fofa e suada da senhora, e acabou com o meu dilema paladarístico. Ufa! Olhei pro chuchu, balancei a cabeça e comecei a rir. Ora, tão fácil, né? Chuchu! A senhora, que tinha cara de Cleuza, mas se chamava Jandira, não gostou nada da minha risadinha e logo se armou com uma cara mais feia do que a que ela já tinha, e deu pra perceber o esforço dela enrugando com dificuldade a testa já enrugada. – Ta cego, seu bosta? Disse ela. Saí do meu êxtase pós-descoberta e lhe pedi desculpa. Pensei comigo que, cego nada; se fosse cego iria passar boa parte dos dias seguintes comendo coisas feito louco, pra descobrir que o meu desejo era por uma coisa tão simples e que eu nem gostava tanto assim.

Juntei o chuchu e mais algumas frutas que caíram pelo corredor do ônibus e me ofereci para levar algumas sacolas. Ela desenrugou o rosto, deu um sorrisinho de lado, agradeceu e me deu mais nove sacolas. Tentei disfarçar a cara de: Mas que folgada! Não sei se consegui. Ela então puxou a cordinha, e foi como se aquele ato transformasse tudo, e agora ela fosse minha melhor amiga. Nunca vi lábios tão fininhos, afiados e com a capacidade de falar tantas palavras num espaço de tempo onde sempre dava a impressão de que não caberia.



De repente continua...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ontem vi que pouco que vi
De tudo que é bonito
A gente pouco enxerga
Porque o feio manda aqui

Mas ontem vi o pouco
E talvez escasso se faça
Pra fé se manter erguida
Pra que o bobo seja louco

Ou talvez eu tenha que comprar um binóculo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Se o mundo é meu

Meu mundo é de quem?

Lá fora eu possuo

Aqui dentro, alguém?
Poeta maduro

Não cai da árvore

Dá um pulo
É tanto amor. Já não se abriga
Me tornei melhor amiga do meu bem
Melhor por perto do que sem
E no descuido, por vezes, afago seu braço
Como recompensa, meu pedaço de carinho
Faço de seus pêlos o meu ninho
Mesmo que esse sono doa tanto
Cheirando ao pranto daquela outra
E é tanto nó que a voz encontra
Que de certo rio. Um riso triste, um arrepio
Que pra ele é frio, minha agonia exposta
E num piscar, assim, me encosta
Fecha a porta e me deixa nua
Me veste o corpo com uma armadura
Pra censurar o que perdura em minha pele
E encantador, sem dó, me repele
Então derramo, tarde da noite
O que vivi no açoite do dia
Uma escassa e mentirosa alegria
Pelo corpo de alguém que me perdeu
E me dou para um ex-namorado meu.

Compositor

Eu queria ser compositor
Organizar em notas a tristeza de não ter um amor
Descobrir acordes no formato do teu rosto
Que me dessem pelo menos esse gosto de te amar
Você me seria até bonita
O desencontro em quartas e a desilusão em quintas
Tudo em tom maior contrastando com esse pranto
Que troxesse um pouquinho de encanto para cá

Ah, mas minha voz já nem existe
Eu só faria canções tristes
Pois na escala do meu violão largado e batido
Não existe não, amor escondido
Não existe não, um sentimento sustenido

Receita da Vida (Sem Chocolate)

Enquanto escrevo o céu assim, escuro
Eu bebo um horizonte amarelado
Desato a noite pelos teus cabelos
E de encanto eu fico embriagado
O desespero passa pela porta
Eu choro um milhão de madrugadas
Talvez o tempo atire nos teus olhos
Essas estrelas que me são negadas

Assim, eu bebo a noite pelos olhos
E de madrugadas fico embriagado
Desato a escrever um desespero
Enquanto o horizonte me é negado
O céu atira o choro em teus cabelos
Um amarelo escuro encantado
Na porta para um milhão de estrelas
Talvez meu tempo já tenha passado