sexta-feira, 30 de julho de 2010

Passarim

Compartilho, em parte, da idéia de que temos que fazer o que temos vontade pra ser feliz, realizar os nossos sonhos, viver uma vida plena, etc.
Porém, nós somos feitos de palavra e ação. Somos feitos de relações. Normalmente quem age pelo impulso de fazer pra não se arrepender depois, esquece que o outro tem o mesmo direito e que as vezes os atos vão na contramão das palavras. O que machuca não é realizar, é a forma como isso é feito.
Tenho sempre a preocupação pelo respeito e pela consequência. É chato? Pode ser, mas aí você consegue atingir o objetivo de maneira mais coerente, menos obscura, realmente FELIZ e sem invadir o espaço do outro.
Acho um tanto quanto perigosa essa história de "aja duas vezes antes de pensar".
Não é uma questão de amor, não. Aqueles que amo sempre me terão, sem qualquer barreira ou fronteira.
Porque o amor está bem acima disto.
O amor flutua.
O amor não precisa de asas pra voar.
Se somos seres feitos de amor, precisamos prestar mais atenção nisso.

Beijo, me liga!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quando vi já estava lá
No meio da ventania
Meu rosto no espelho
Coberto de areia
Areia fina assim, como você
Turvando meus olhos
A rua do desencanto
Eu canto, eu canto
Eu passo

Eu, morto de amor
Num canto qualquer
Da garganta arranhada
De voz falsa, de voz calada
De melodia triste
Meu dia é noite
Com o zelo de que leva o andor
Eu velo, agora, a paixão
Pra ver se nasce um novo amor

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tem gente
que mente
ao invés de trabalhar
fica a atrapalhar
ao invés de trabalhar
faz trabalho.

Ah, sai pra lá!

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Elevador de Deus

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar viva todo dia.
Há dores que, sinceramente, eu não resolvo,
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas


A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento

Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!

Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde você tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Beijo

Descobri-me em um sorriso
Isso porque era lágrima
Bati no teu lábio, preciso
Degustaste o sal da lástima

Perdi a limpidez
Da vergonha se fez saliva
Os teus dentes mastigaram a timidez
Me fiz desejo, no macio da tua lingua

Quis nascer pra sempre choro
Desses que acompanham o teu riso
Pra, de beijo, morrer mouro
Outra encarnação, nos teus olhos, eu exijo!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Maresia

Então a maresia noturna de Copacabana me corroeu
Logo eu, pensei.
Minha ressaca ali nas ondas do mar
Como um sorriso teu bem de perto
Quase um beijo. Ímpar
Me vi salgado, deserto
De certo assim, com a alma à mostra
Encosta-me a solitude; ambar

Um saveiro contra a rocha
Quem seria o marinheiro?
Quanta dor já desabrocha
Até parece que, da fila, eu sou o primeiro
Olho pra trás, te vejo em milhares
Mas quando me olhares, quem verás?

Minha ressaca ali nas ondas
Dou um sorriso pro chinelo
Como o sol que desponta, amarelo
A saudade me esconde a alma
O sono eu cancelo
Sofro porque sou feliz
Amo porque quero

terça-feira, 13 de julho de 2010

Há Braços

Há braços que me apertam
Não mais o corpo, mas o peito
Alardeando o sentimento, libertam
A lembrança da pequena; me deito

Abraços com gosto de choro
Sorriso não mais consola
Nunca mais, nunca mais me apaixono
Mentira! Mentira que não cola

Há braços e abraços
Dos teus nunca mais
Nunca mais me envolveram
Mas sinto o teu cheiro
Quando aperto o meu coração

sábado, 10 de julho de 2010

Choro de Perdão (Daniel Basilio e Tiago Rosa)

De pé em pé vou acordando o assoalho

Barulho páreo pra deixar você em pé

Encabulado, te aceno de soslaio

Mas o perdão é mais amargo que o café



É dia de morrer de amor

E se não for, que seja dia de paz

Vou viver de ser cantor

Enquanto a vida vai e vem e vai



Enquanto o sono da manhã chega aos meus olhos

Eu te procuro no arranjo do buquê

E quando vejo, já te beijo e perco os modos

Amando tanto quase sempre sem saber



É dia de morrer de amor

E se não for, que seja dia de paz

Vou viver de ser cantor

Enquanto a vida vai e vem e vai



Se, na verdade, só vês

Coisas demais, sem razão

Entrego à tua mercê

Restos do meu coração



E vou viver poeta, enfim!

Se nunca fosse, o que seria de mim?

Seja não por isso, amor,

Aqui não está mais quem falou

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Instrumento

Antes tudo era pressa
Fome de tempo passando
Promessa de puro desengano

Parti, como quem parte o desfecho
Gula de opções dolorosas
Desleixo da coerência

Ora, eu já sabia!
Como em um cartaz de estádio
Cabia em mim só mais pinguim de dor

Transbordando, assim, me vi vazio
Como um terno no cabide
Vazio de carne, dor e tempo

Congelo, agora, o alimento
Pra que a fome venha lenta
Lento como se deve amar
Lento como a confecção de um instrumento