quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Riso de Condessa

Não era carnaval
No Cordão do Bola Preta
Mas vinha lenta, de um jeito tal
A cadência do teu carinho
Que o frio do meu peito
Até hoje esquenta

Era carnaval nos nossos olhos
O imbróglio das mão se procurando
Os toques involuntários
Incendiários abraços, as bochechas queimando
Aquele riso de Condessa, o cangote e o queixo
O beijo

Não era carnaval
No Cordão do Bola Preta
Essencial pro resto da festa
Era nosso próprio carnaval
O puro amor sem juras
Nem promessas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Escafandro e a Borboleta

Nesse mundo onde bruxa é fada
Não me encanto mais com nada
Canto porque é só o que me resta
E todo meu amor
É um beijo na testa.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Viajei

Ancorado. Só, Pacífico
Deixo o vento atípico
Morno e salgado
Tornar-se companhia

Via na imensidão esverdeada
Minha namorada, minha agonia
Me afogava em ventania
Respirava a água gelada

Quando era tempo de terra firme
Me passava um filme
E não ousava voltar
Me casei com as ondas do mar

Parti porque não gosto de alegria
Não! Não desta fantasia do homem
Sou feliz como um peixe
E trilhões de litros, minha casa
Nado, nada, direto e ao contrário
Mas sempre fora do Aquário.

Bolero de Uma Noite com Sofia

A ti soltei o perfume da terra
Toquei no nada
E para ti foi tudo


Para ti criei todas as palavras
E todas me faltaram
No minuto em que talhei
O sabor do sempre

Para ti dei voz,
Às minhas mãos
Abri os gomos do tempo
Assaltei o mundo
E pensei que tudo estava em nós
Nesse doce engano
De tudo sermos donos
Sem nada termos
Simplesmente porque era de noite
E não dormíamos

Eu descia em teu peito
Para me procurar
E antes que a escuridão
Nos cingisse a cintura
Fitávamos nos olhos
Vivendo de um só
Amando de uma só vida

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Real Beleza

As pedrinhas espalhadas pelo passeio
São as partes do meu anseio, que já foi inteiro
É desastroso, doloroso e agoniante
Consiguiste tornar passante o que era permanente

Já havia perdido o amor presente
Mas quebrou com os dentes o amor passarinho
Já que mentes como quem respira; Esqueces
És pequena mesmo, e sei que não parece

Não te quero mal
Pois não é do meu feitio a vingança
Pelo contrário; tenho esperança
Quero que venha macio o que te faz feliz
Quero que o entendimento tome o lugar da fraqueza
Para que quando a máscara caia
Se mostre a tua real beleza

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ilmo Sr. Pedro Américo

Era o Sr. Américo quem ditava o amor na madrugada
Como que redescobrisse a amada naquele quarto escuro
Uma disparidade; opróbio e dignidade
Ele próprio, só, e duas metades

Mas ensinava, como um médium, sem saber a imensidão
Como se o amor fosse o pão, o remédio
Uma barbaridade; o ócio e a vontade
Os dois nus, ele só vaidade

Acabou o ditado muito antes do esperado
Como quem, calado, entende a dor
Uma contrariedade; o inseto e a flor
Partiu confuso, o professor
Não admitindo tanto amor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Da Sandália

Que da letra, redonda, fez-se garrancho
E do espírito, que ronda, um gancho

Atravessas meu coração
Mas não o partes
Porque partes em contradição
Porque partes o que é inteiro

Que da vida, medonha, me abstenho
Mas tenho deveras amor; devaneio

Atravessas o quarteirão
Quase me bates
Mas, na pressa, pegas a contramão
E um caminhão carregado de minha voz
Te bates

Pra dizer que sim
Pra dizer que não
Pra dizer que amor não é fogo
É canção.